Onde você mora? + Achados e Imperdíveis - Jun/25

Mudanças, neuroses, homenagem ainda em vida e provocações

Onde você mora? - uma pergunta puxadora de conversa e aparentemente inocente.

Talvez sua resposta mais imediata seja com sua cidade ou bairro, tentando fazer com que seu interlocutor entenda onde você se situa.

Dia desses vi um verso que achei lindo - e verdadeiro - dizendo que a gente só vive onde nosso corpo sente que ali nosso coração bate, como se o lugar também fosse o que sentimos quando estamos nele.

Meus pais acabaram de vender a casa que moravam há 25 anos, dos quais participei por uns 12. Foi a casa onde cresci, onde vivi muito da minha infância (chão que pisamos a vida inteira), fiz amizades, presenciei mil celebrações (meus pais amam receber e a casa sempre foi palco de Natais, almoços de domingo, festinhas etc) e onde construímos nosso cantinho de amor e pertencimento.

A Rua das Buganvílias sempre foi nosso refúgio. Quando estava grávida da minha primeira filha, Maria, escrevi uma cartinha para ela e tinha um trecho mais ou menos assim:

Foi nela que cresci. Uma das coisas que mais amo aí é o pé direito alto, sabia filha?

Ele é diretamente proporcional ao tanto de gente especial que já passou por esses metros quadrados.

Sua avó tem um bom gosto danado, seu avô cozinha como ninguém. Juntos, os dois são muito bons na arte de receber.

Tentei herdar isso - como se a gente conseguisse escolher o que vai receber.

Não sei se você gostou do espacinho que meu corpo prepara há 8 meses para você. Pelos seus pontapés, meu pé direito não é tão alto assim, mas acho que tá dando para dançar de boa, né? Para mim, ter você aqui é uma festa danada.

Tô tão feliz (por dentro e por fora) em ver você crescendo em mim. To tão animada que daqui a pouco vamos estar as duas aqui fora.

Além de você já saber todos os cantos de mim, prometo te levar para conhecer outras casas. Topa arrastar os móveis e dançar com a mamãe até cansar?

Prometo um astral (e quem sabe um pé direito) bem alto

Uma das minhas maiores alegrias foi poder ter voltado para lá, anos depois, levando meus filhos para dormir no melhor silêncio do mundo, pisar na grama que tanto brinquei - e no parquinho que embalou meus anos de inocência.

Em um dos capítulos do “Não está mais aqui quem falou” (livro que li no último mês com provocações bem legais, da Noemi Jaffe) estava a definição de hospedar, que era trazer para dentro. E acho que nossa família trouxe para dentro muita gente querida que fez parte da história daquele lar.

Ainda não tenho todas as palavras para elaborar o que essa mudança significa para mim (mesmo que eu já tenha saído de lá há anos, tem elementos que definitivamente vivem em mim). Prometo que, assim que tiver, venho narrá-las aqui.

Mas fato é que casa é muito mais do que metros quadrados, é sonho materializado, fase de vida, personalidade de quem ali habita e a reunião de todos os pequenos momentos que aconteceram dentro daquele espaço. Onde você mora? Acho que moramos em tudo isso.

Deixo vocês com as dicas do que achei imperdível que vi/ouvi/assisti em Junho.

Um beijo,

Gabi